"Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que estava nos livros..."

"E assim, do pouco dormir e do muito ler se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo."

"e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade tôda aquela máquina de sonhadas invenções que lia,
que para êle não havia história mais certa no mundo."

- Don Quixote de La Mancha, Miguel de Cervantes Saavedra




sexta-feira, março 04, 2011

desAPEGOS

"Paty, a Margarida morreu", era a voz abafada, chorosa e desamparada de minha mãe, pelo celular, às 6:20h da manhã de uma 5ª feira chuvosa.
É engraçado como lidamos com esse tipo de coisa, vai mesmo meio que no automático: pronunciamos algumas poucas palavras de afeto, procuramos nos livrar rapidamente da angústia, que começa a apertar, procuramos acreditar que a pessoa que tanto nos amparou anos e anos a fio está melhor agora e ... e então? A verdade é que eu mesma não sei lidar com isso. A morte para mim não é um processo natural, mesmo que todos morram um dia.
Margarida é a minha avó de criação. Sim, sim, avó mesmo! Cuidou da minha mãe como de todos seus 4 filhos, quando minha mãe se casou com meu pai e foram morar na roça. Foram visinhas.  E nos adotou, intimamente. Claro que sempre gostei muito de meus avós "de sangue", porém com a vó Ida era diferente, era meio que uma 2ª mãe, mesmo... quando fiquei com rubéola minha mãe estava em viagem de negócios e eu estava na casa dela, e foi ela quem cuidou de mim. Era a comidinha dela que eu ansiava aos domingos. Foi dela que levei as broncas quando respondia ou agia errado lá em casa. Foi ela quem segurou a minha filha pela 1ª vez... ela esteve presente em muitos momentos especiais e era o "nó" social da família.
Morreu de câncer. Então fico imaginando que morreu até tarde, porque ficou essas semanas todas, sofrendo, com dores, no hospital. 3 semanas! É muita coisa para quem está com dores, neh não? É muito egoísmo mesmo de minha parte me sentir assim, tão triste e tão desamparada neste momento porque, para ela, foi melhor assim.
Eu não fui vê-la em nenhum dia em seu leito de morte, e isso também me atormenta muito. Estive fora uma semana, em treinamento, minha vida é corrida, moramos em outra cidade, blábláblá... desculpas! Pq eu tive tempo SIM de ir até lá... mas intimamente me recusava a ir vê-la numa cama de hospital. Ela, sempre ativa, sempre de pé, lá, deitada, cheia de tubos... não, eu não gostaria de ter essa visão. Mas se não gostaria, então porque agora me sinto tão triste por não tê-lo feito?
Como diz meu irmão, @Gstv08, "a gente nasce, cresce, come e morre." Faz parte da vida... é! Faz! Mas não sei mesmo lidar com isso... tanto que estou aqui, escrevendo, escrevendo, e não sei nem como finalizar... era pra ser uma mensagem de adeus carinhoso, e está se tornando quase que um desabafo.
"Sempre tão confusa"... Pior ainda, depois de ficar meses sem postar nadica de nada aqui, venho com um tópico assim, tão triste. Ah, gente, reconsiderem... Estou de luto! E só preciso mesmo chorar um pouquinho, desabafar, colocar tudo isso pra fora e procurar prosseguir!
Vó... amo muito você! Descanse em paz!